The coronavirus pandemic caught us all by surprise and completely changed our lives in a matter of days. We’re all going through a turmoil of emotions, thoughts, and insights about this unprecedented time we’re living.
A pandemia do coronavírus apanhou-nos a todos de surpresa e mudou completamente as nossas vidas numa questão de dias. Estamos todos a passar por um tumulto de emoções, pensamentos, e insights sobre este acontecimento sem precedentes que estamos a viver.
Mesmo que frequentemente entrando em contato com pessoas de todo o mundo nas nossas experiências na natureza, nós nunca nos sentimos mais parte de uma comunidade global quanto agora. Na nossa vida, nunca experenciámos um fenómeno como este que está a conectar todo o planeta de uma forma tão profunda.
Tal como todos, partilhamos uma profunda preocupação com a saúde dos nossos entes queridos mais velhos e/ou com pré-condições clínicas e com as consequências económicas inevitáveis. No entanto, no fundo, mais do que medo, sentimos uma sensação de esperança para o futuro, já que agora é mais do que óbvio que alguma mudança coletiva está prestes a chegar.
A única questão que permanece nas nossas mentes é: o que podemos aprender com isto?
Todos nós da Breathe estamos profundamente interessados em refletir sobre o impacto social, psicológico e espiritual deste fenómeno verdadeiramente global. Nós não temos nenhuma resposta, mas gostaríamos de compartilhar com vocês as 8 ideias-chave que tivemos até agora sobre este surto de coronavírus.
A nossa sobrevivência depende da nossa capacidade de cooperação.
Os humanos sempre foram animais sociais. Sempre dependemos das nossas complexas relações sociais e confiança mútua, mas a qualidade das nossas relações mudou ao longo dos tempos. Vivemos numa sociedade que glorifica o individualismo, esquecendo muitas vezes que a cooperação e a interdependência são exactamente o que nos torna civilizados e nos permitiu sobreviver ao longo de milénios. Este é um momento em que temos de provar a nós mesmos que podemos e devemos estabelecer medidas de cooperação à escala global.

A nossa mentalidade individualista está a ser desafiada e está-nos a ser mostrado que esta grave questão de saúde pública só pode ser resolvida com a colaboração activa de todos. Assim como a subsistência harmoniosa das árvores na floresta, só podemos aliviar este surto se formos capazes de pensar além de nossas necessidades e desejos pessoais e tomar ações conscientes e sincronizadas para o bem maior de nossa comunidade.
O Efeito Borboleta é real. Estamos todos conectados.
Só foi preciso uma pessoa em Wuhan, na China contrair um vírus para fazer tremer o mundo inteiro. Por causa deste incidente isolado, um enorme efeito dominó ocorreu, e em cerca de 120 dias mais de 10.000 pessoas morreram e mais de 250.000 foram infectadas. As fronteiras foram fechadas, os estados de emergência foram declarados, as economias entraram em colapso e o estilo de vida da humanidade na Terra mudou drasticamente. Esperamos que este evento possa fazer com que as pessoas parem de subestimar o facto de que estamos todos profundamente conectados de maneiras além de nossa compreensão, e que o Efeito Borboleta é algo muito real. Em outras palavras, ações pequenas podem resultar em grandes consequências e transformações.

Não esqueçamos que, assim como as ações individuais podem potencialmente ter efeitos numa grande escala, todas as ações aparentemente simples e isoladas da nossa vida diária provavelmente têm um impacto muito maior do que poderíamos imaginar. Um impacto no nosso planeta, nas outras pessoas, e, claro, nas nossas próprias vidas.
A vulnerabilidade partilhada está a aproximar-nos.
Este novo coronavirus é altamente contagioso, mas nos últimos dias, tem sido demonstrado que assim também é o Amor, a Empatia e a Solidariedade. À beira do caos, do pânico social e da ansiedade generalizada, milhões de pessoas têm demonstrado atos verdadeiramente encorajadores de altruísmo que nos fazem restaurar a nossa fé na humanidade. Numa publicação de 1975, os sociólogos Russell Dynes e Enrico Quarantelli, ambos pioneiros no campo da pesquisa de desastres, mostraram que, ao invés de intensificar a violência e o conflito, grandes calamidades parecem trazer o melhor das pessoas. Eles disseram: “Quando o perigo, a perda e o sofrimento se tornam um fenômeno público, todos aqueles que compartilham a experiência são reunidos num sentido psicológico muito poderoso.”. Parece que, afinal, é a nossa vulnerabilidade partilhada que nos une.
A ciência é importante e pode salvar vidas. Podemos confiar em cientistas.
Neil deGrasse Tyson recentemente disse, num night-show, que ele vê este surto da COVID-19 como um “experimento global massivo” que irá revelar o quanto as pessoas estão dispostas a ouvir os cientistas. Neste caso, ele está a referir-se a profissionais médicos, virologistas, imunologistas, entre outros, que estão a transmitir-nos diretrizes claras que devemos seguir, como lavar as mãos e a respeito por medidas de distanciamento social.
Também baseado na ciência, em 2014, Bill Gates previu que poderíamos ter uma pandemia a qualquer momento e que não estaríamos prontos para ela.
Já tivemos evidências suficientes de que, além de surtos de doenças contagiosas, em praticamente qualquer área de nossas vidas, devemos ouvir e confiar na ciência, e na sua metodologia rigorosa e empírica. Devemos verificar as nossas prioridades como sociedade. Devemos não só respeitar a ciência, mas também os próprios cientistas, assegurando-nos de que eles são capazes de obter os recursos de que necessitam para realizar corretamente o seu trabalho.
Estamos a ter um vislumbre do que pode correr mal com as alterações climáticas.
Com o surto do coronavírus, estamos a ter um vislumbre do que é um colapso do sistema económico industrial global. Devemos encarar este desafio como uma oportunidade para nos prepararmos para lidar com as alterações climáticas com a seriedade que elas merecem. Devemos ter em mente que, depois de atingir o “tipping point”, o aumento da temperatura global levará certamente a uma cascata de eventos terríveis que poderão abalar a humanidade de maneiras mais severas do que esta pandemia.
Não é surpresa para ninguém que os jovens não estam felizes com o impacto da humanidade nos ecossistemas da Terra. Nos últimos anos, as populações mais jovens de todo o mundo têm levantado cada vez mais as suas vozes, pedindo mudanças e exigido que os líderes globais tomem medidas para a mitigação das alterações climáticas. Embora seja algo que afetará a humanidade como o todo, foram as gerações mais jovens que mostraram levá-lo mais a sério. Agora, com o coronavírus, os jovens estão também a liderar o caminho. Apesar de serem o grupo menos vulnerável, estão a dar um exemplo de como se comportar correctamente em termos de isolamento social.

Numa época em que estamos constantemente a ser informados sobre o perigo das alterações climáticas, precisamos de nos unir e responder de forma criativa, sensata e eficaz a estes desafios reais que temos pela frente.
Esta pandemia pode ser um processo de auto-regulação da Terra.
A ciência tem-nos dito que esta pandemia foi certamente influenciada pela atividade humana. Está a ser demonstrado que quanto mais invadimos e destruímos áreas naturais intocadas e selvagens, mais nos expomos a vírus desconhecidos. David Quammen, autor de Spillover: Animal Infections and the Next Pandemic, disse: “Cortamos as árvores; prendemos os animais enviamo-los para os mercados. Nós perturbamos os ecossistemas, e sacudimos os vírus dos seus hospedeiros naturais. Quando isso acontece, eles precisam de um novo hospedeiro. Muitas vezes, somos nós.”. Este fenómeno sugere que a natureza tem suas próprias maneiras de se regular.

Na sua “Teoria de Gaia”, o químico James Lovelock e a microbiologista Lynn Margulis hipotetizaram que a Terra poderia ser vista como um organismo vivo que se auto-regula. Nesse sentido, graves surtos de vírus podem ser vistos como uma resposta dos ecossistemas ao nosso comportamento destrutivo enquanto espécie. Em vez de uma vontade consciente da Terra exigir vingança pelos danos causados, essa resposta seria mais como um resultado natural de nossas ações, em que os sistemas do planeta como um todo se ajustam para restaurar o equilíbrio. Isto faz sentido para nós, uma vez que está de acordo com o que a Física nos diz sobre a forma como o universo funciona – tudo tende para um estado de equilíbrio.
Temos ouvido falar de algumas vitórias importantes que a natureza teve devido à pausa refrescante das nossas intensas pressões humanas. Os canais de Veneza tornaram-se cristalinos, a queda maciça da China nas emissões de CO2 e até mesmo o regresso dos golfinhos ao rio Tejo em Lisboa são apenas algumas das notícias edificantes das últimas semanas.
Esta é uma grande oportunidade para grandes mudanças estruturais nos nossos sistemas socio-económicos
Este desafio global sem precedentes trouxe uma interrupção inesperada da maioria das economias do mundo, confirmando assim a sua fragilidade. Aspectos ocultos da nossa sociedade estão a ser revelados e estamos a ver o capitalismo, o bem-estar e a democracia sob uma nova luz. Estamos a ter que suspender as regras do jogo do capitalismo para dar uma resposta aos indivíduos e corporações que foram forçados a pedir ajuda.
Está a tornar-se cada vez mais óbvio que, como vivemos num planeta com recursos finitos, é impossível continuar a construir as nossas sociedades com base em sistemas económicos abstratos. Por esta razão, temos esperança de que esta situação possa trazer grandes mudanças aos nossos sistemas rígidos e inadequados.

Vamos olhar para o passado e ver o que a História nos revela. Por exemplo, no século XIV, a Peste Negra contribuiu para a contínua desintegração do sistema feudal. No século XVIII, o terramoto de Lisboa de 1755 desafiou profundamente a crença num Deus misericordioso e omnipotente e consequentemente, o poder inquestionável e autoritário da Igreja na sociedade.
Agora, em 2020, estamos a er a oportunidade de refletir sobre nossos sistemas socio-económicos atuais. Esperamos que muitos líderes entendam essas questões e promovam uma economia mais regenerativa e colaborativa na qual os cuidados de saúde e outros sistemas fundamentais ganhem importância central, em equilíbrio com a preservação da natureza e o bem-estar das pessoas.
A Saúde Mental é extremamente importante.
A presente crise está a trazer a tão necessária atenção para a nossa saúde mental. A incerteza e o medo do desconhecido sempre estiveram profundamente presentes nos humanos. Este momento no tempo revela-nos os temas existenciais que todos tentamos desesperadamente evitar: a presença inevitável da morte, e esse controle é, na maioria das vezes, uma ilusão. E para além disso, ainda nos têm pedido para ficarmos em casa, o que pode ser um desafio para muitos de nós. O isolamento não é brincadeira, tanto para aqueles que estão fisicamente sozinhos, como para os que se sentem solitários e incompreendidos dentro de suas famílias e que agora têm que viver todos os dias nessas circunstâncias, sem nenhum outro lugar para ir. Estas são definitivamente algumas partes dura complicadas da nossa realidade como seres humanos e é normal e completamente natural sentirmo-nos ansiosos e com medo. Estamos apenas a ser humanos.
ALGUMAS RECOMENDAÇÕES
Este é o tempo para cuidares de ti mesmo. Dedica tempo aos teus hobbies ou encontra novos. Escrever um diário sobre os teus sentimentos e experiências atuais pode ser um excelente modo de te conectares contigo mesmo. Ler livros, desenhar, aprender uma nova língua ou um novo instrumento musical, falar e conectares-te com os teus entes queridos, com amigos distantes ou familiares através de videochamadas, ioga online ou aulas de treino, são coisas que estão ao teu alcance e que podem ajudar a te sentires melhor. O exercício também é especialmente importante – para os nossos corpos e as nossas mentes, é uma das melhores maneiras de lidar com a ansiedade.

E acima de tudo, lembra-te de respirar. Recomendamos, mais do que nunca, a prática do mindfulness. Poderás encontrar inúmeros recursos online (experimenta aplicações como Calm, Insight Timer ou Headspace). Tira um tempo para começar a meditar, mesmo que apenas 5 minutos por dia. Permite-te apenas encontrar um momento tranquilo em que te dês uma chance. Sê gentil contigo mesmo.
Considerações finais
Temos grandes desafios pela frente, mas nunca devemos subestimar a capacidade humana para a adaptação. Por enquanto, o futuro não é claro. A incerteza é certa, mas há lições extremamente valiosas a retirar daqui. Mais do que nunca, este é um momento em que nos devemos perguntar quais são nossas crenças e valores, e como devemos reordenar nossas vidas, individual e coletivamente.
Há um enorme potencial para mudanças positivas e talvez até mesmo uma atualização dos nossos paradigmas e sistemas humanos. Devemos concentrar-nos ativamente em retirar aprendizagens, construindo narrativas conscientes e construtivas a partir desta situação. Afinal, na língua chinesa, a palavra “crise” é composta por dois caracteres: um representando o perigo e outro a oportunidade.
Fica em casa. Estamos juntos.
Equipa Breathe